terça-feira, 30 de março de 2021

ATÉ QUANDO VOCÊ VAI AGUENTAR?

             Na maioria das situações, é melhor para você dar vasão aos sentimentos negativos do que mantê-los aprisionados dentro de você. Tristeza, raiva, angústia, frustrações em geral são sensações que podem comprometer sua saúde física, mental e emocional. Desabafar ajuda a manter o equilíbrio. Há sempre a chance de se ter um bom amigo disposto a ouvir e oferecer um ombro. Mas, quando isso não é possível ou suficiente é razoável apelar-se, também, para um profissional.   
           O problema maior, no entanto, é quando, apesar das muitas tentativas,  não conseguimos falar daquilo que realmente nos incomoda; de nossas verdadeiras mazelas interiores. Reconhecer nossos medos, desapontamentos, culpas, vergonha etc., às vezes, se torna tão difícil, que chegamos a não ter coragem de ouvir nossos próprios pensamentos. 
           É difícil  aceitar, realmente, que todos somos imperfeitos quando parecemos ser os únicos a cometer erros e o alvo preferido de toda gente.  Em certas ocasiões, não ter com quem desabafar nem se configura nosso maior problema. O mais difícil é manter um dialogo interior aberto, verdadeiro com nós mesmos, quando sufocados por sentimentos de culpa e vergonha.  
        A culpa, de certa forma, é menos maléfica que a vergonha. Pois, nos faz refletir, pedir desculpas a quem ofendemos ou magoamos e nos ajuda a mudar nossas atitudes. Nos faz mais responsáveis com os outros. 
        A vergonha, no entanto, nos mantém atrelados ao medo da rejeição, ao sentimento de menos valia. A vergonha nos leva a negação de nossas imperfeições.  Nos faz pensar que não seremos amados por causa de nossos defeitos. Que, por algum motivo, nascemos maus, perversos, indignos, diferente dos demais e teremos de carregar nossa cruz, de estranhos no ninho, sozinhos.  
           Quando você tem culpa você busca compensar seus erros com desculpas e novas atitudes. Quando você tem vergonha, você mente, não admite, transfere a responsabilidade do erro que você cometeu para outros. Você não aceita que errou e que, muito menos, alguém se atreva a dizer-lhe isso. Você não tem humildade suficiente e coragem para reconhecer que errou e que você é como qualquer outro ser humano: imperfeito. 
        Se conversar com outra pessoa sobre você é difícil, converse consigo mesmo primeiro. Seja vulnerável; humilde de verdade. Não se sinta menos, menor. As pessoas amam as pessoas vulneráveis, os “pobres de espirito”, os réus confessos. Perdoe-se. Admita seus erros e fraquezas. Você é um simples ser humano - como todos nós - nada menos.



quinta-feira, 25 de março de 2021

AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS CURTOS


By Portia Nelson /
Tradução por minha conta e risco
I
Eu desço a rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu caio dentro dele
Estou perdido…me sinto desamparado
Não é culpa minha
Levo uma eternidade para achar a saída
II
Eu desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu finjo não o ver
Eu caio de novo
Não consigo acreditar que estou no mesmo lugar... mas, não é minha culpa.
Mesmo assim ainda levo muito tempo para sair dele.
III
Desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu o vejo ali
Novamente eu caio. É um hábito, meu olhos estão abertos.
Eu sei onde estou
É culpa minha.
Eu saio imediatamente
IV
Eu desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada.
Eu desvio dele.
V
Eu vou por outra rua.
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Aceitar o novo é sempre um desafio assustador. Muitas vezes, preferimos o ruim conhecido, à possibilidade de uma nova vivência. Simplesmente, temermos o inusitado. A segurança de um presente triste e enfadonho parece-nos, às vezes, menos ameaçador que o mais promissor dos futuros. Morremos de medo de correr riscos, mesmo que o pior dos efeitos colaterais ainda possa ser muito melhor que o momento vivido. Desconfiamos de tudo que traga o rótulo de inédito, e, mesmo assim, fingimos sonhar com dias melhores. Lutamos para mudar nosso futuro. Mas, no fundo, queremos estar seguros de que tudo continuará como sempre foi - ruim, mas sem sobressaltos. Caímos tantas vezes no mesmo buraco que nos tornamos especialistas em cair e levantar; como se todos os caminhos tivessem, necessariamente, que acabar no vazio. Quem nos ensinou que ser feliz é ruim, que afasta os amores? Quem nos convenceu que a esperança sozinha pode preencher nossos espaços mais profundos? Em algum momento, tentaram nos convencer que a felicidade é o tédio travestido de possibilidades remotas. Coitados, mal sabem eles que a felicidade é  vívida de possibilidades e desdobramentos singulares e que alicia mais amores que a falsa e obscura  segurança dos caminhos em assombro. Estamos tão  acostumados à luta, que quando não percebemos o inimigo, entramos em colapso. Estar bem é, às vezes, um ato de estrema coragem e desafia profundamente a alma inquieta. É preciso compreender, no entanto, que não podemos passar a vida procurando a felicidade. Na verdade, todo dia nos topamos com a ela, em todo lugar. No sorriso de uma criança, numa flor do campo, no canto de um pássaro, no abraço amigo. Só  que, raramente, a percebemos aí. Não a reconhecemos, pois não temos um padrão interior para compará-la. Esperamos um susto. Um êxtase. Não  um momento singular, pleno em si mesmo. Todo dia a vida se renova. Não pode haver maior fecilicidade.