By
Portia Nelson /
Tradução
por minha conta e risco
I
Eu
desço a rua
Há
um enorme buraco na calçada
Eu caio
dentro dele
Estou
perdido…me sinto desamparado
Não
é culpa minha
Levo
uma eternidade para achar a saída
II
Eu
desço a mesma rua
Há
um enorme buraco na calçada
Eu
finjo não o ver
Eu
caio de novo
Não
consigo acreditar que estou no mesmo lugar... mas, não é minha culpa.
Mesmo
assim ainda levo muito tempo para sair dele.
III
Desço
a mesma rua
Há
um enorme buraco na calçada
Eu
o vejo ali
Novamente
eu caio. É um hábito, meu olhos estão abertos.
Eu
sei onde estou
É
culpa minha.
Eu
saio imediatamente
IV
Eu
desço a mesma rua
Há
um enorme buraco na calçada.
Eu
desvio dele.
V
Eu
vou por outra rua.
#########
Aceitar
o novo é sempre um desafio assustador. Muitas vezes, preferimos o ruim
conhecido, à possibilidade de uma nova vivência. Simplesmente, temermos o
inusitado. A segurança de um presente triste e enfadonho parece-nos, às vezes, menos
ameaçador que o mais promissor dos futuros. Morremos de medo de correr riscos,
mesmo que o pior dos efeitos colaterais ainda possa ser muito melhor que o
momento vivido. Desconfiamos de tudo que traga o rótulo de inédito, e, mesmo
assim, fingimos sonhar com dias melhores. Lutamos para mudar nosso futuro. Mas,
no fundo, queremos estar seguros de que tudo continuará como sempre foi - ruim,
mas sem sobressaltos. Caímos tantas vezes no mesmo buraco que nos tornamos especialistas
em cair e levantar; como se todos os caminhos tivessem, necessariamente, que
acabar no vazio. Quem nos ensinou que ser feliz é ruim, que afasta os amores?
Quem nos convenceu que a esperança sozinha pode preencher nossos espaços mais
profundos? Em algum momento, tentaram nos convencer que a felicidade é o tédio travestido
de possibilidades remotas. Coitados, mal sabem eles que a felicidade é vívida de possibilidades e desdobramentos
singulares e que alicia mais amores que a falsa e obscura segurança dos caminhos em assombro. Estamos
tão acostumados à luta, que quando não percebemos
o inimigo, entramos em colapso. Estar bem é, às vezes, um ato de estrema coragem
e desafia profundamente a alma inquieta. É preciso compreender, no entanto, que
não podemos passar a vida procurando a felicidade. Na verdade, todo dia nos topamos com a ela, em todo lugar. No sorriso de uma criança, numa flor do campo, no canto de um pássaro, no abraço amigo. Só que, raramente, a percebemos aí. Não a reconhecemos, pois não temos um padrão interior para compará-la. Esperamos um susto. Um êxtase. Não um momento singular, pleno em si mesmo. Todo dia a vida se renova. Não pode haver maior fecilicidade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir