quinta-feira, 25 de março de 2021

AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS CURTOS


By Portia Nelson /
Tradução por minha conta e risco
I
Eu desço a rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu caio dentro dele
Estou perdido…me sinto desamparado
Não é culpa minha
Levo uma eternidade para achar a saída
II
Eu desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu finjo não o ver
Eu caio de novo
Não consigo acreditar que estou no mesmo lugar... mas, não é minha culpa.
Mesmo assim ainda levo muito tempo para sair dele.
III
Desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada
Eu o vejo ali
Novamente eu caio. É um hábito, meu olhos estão abertos.
Eu sei onde estou
É culpa minha.
Eu saio imediatamente
IV
Eu desço a mesma rua
Há um enorme buraco na calçada.
Eu desvio dele.
V
Eu vou por outra rua.
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Aceitar o novo é sempre um desafio assustador. Muitas vezes, preferimos o ruim conhecido, à possibilidade de uma nova vivência. Simplesmente, temermos o inusitado. A segurança de um presente triste e enfadonho parece-nos, às vezes, menos ameaçador que o mais promissor dos futuros. Morremos de medo de correr riscos, mesmo que o pior dos efeitos colaterais ainda possa ser muito melhor que o momento vivido. Desconfiamos de tudo que traga o rótulo de inédito, e, mesmo assim, fingimos sonhar com dias melhores. Lutamos para mudar nosso futuro. Mas, no fundo, queremos estar seguros de que tudo continuará como sempre foi - ruim, mas sem sobressaltos. Caímos tantas vezes no mesmo buraco que nos tornamos especialistas em cair e levantar; como se todos os caminhos tivessem, necessariamente, que acabar no vazio. Quem nos ensinou que ser feliz é ruim, que afasta os amores? Quem nos convenceu que a esperança sozinha pode preencher nossos espaços mais profundos? Em algum momento, tentaram nos convencer que a felicidade é o tédio travestido de possibilidades remotas. Coitados, mal sabem eles que a felicidade é  vívida de possibilidades e desdobramentos singulares e que alicia mais amores que a falsa e obscura  segurança dos caminhos em assombro. Estamos tão  acostumados à luta, que quando não percebemos o inimigo, entramos em colapso. Estar bem é, às vezes, um ato de estrema coragem e desafia profundamente a alma inquieta. É preciso compreender, no entanto, que não podemos passar a vida procurando a felicidade. Na verdade, todo dia nos topamos com a ela, em todo lugar. No sorriso de uma criança, numa flor do campo, no canto de um pássaro, no abraço amigo. Só  que, raramente, a percebemos aí. Não a reconhecemos, pois não temos um padrão interior para compará-la. Esperamos um susto. Um êxtase. Não  um momento singular, pleno em si mesmo. Todo dia a vida se renova. Não pode haver maior fecilicidade. 






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